terça-feira, 24 de maio de 2016

Refletindo sobre Orientação Política

Muito se fala sobre a diferença entre g0ys e gays, já que ambos gostam de homens e se declaram homoafetivos, qual a diferença? 

Que um beijo não transforma um homem em homossexual é praticamente ponto pacífico. Que o ato anal e em especial como passivo é de fato a imagem mais forte vinculada ao mundo homossexual, também, é ponto pacífico. Se o conceito g0y (g-zero-y) quer passear por esses dois extremos, situando-se apenas e exclusivamente no mundo homo afetivo e no homo erótico, sem invadir o mundo homossexual, qual seria esse limite ou esses limites, eis a questão.

A primeira resposta possível é buscar objetividade, ou seja buscar parâmetros no comportamento e nesse ponto o movimento g0y acerta. Apesar de polêmico e que por mais que tenha pessoas que ainda discordem, o g0y behaviour  ou seja, a prática ou não prática do sexo anal, pode ser sim uma resposta inicial e possível.

Na verdade, essa arbitragem na minha opinião foi e é uma grande e articulada busca de um mínimo de consenso, para abrir caminho e possibilitar a existência de um movimento, de grupos, de encontros g0ys, etc. Enfim, criar uma identidade social. Caso contrário, correria-se o risco de ficar eternamente apenas na discussão de possibilidade ontológica diferenciada entre homoafetivo e homossexual, no campo filosófico abstrato e com cada um com a sua perspectiva. E, quando os limites não são claros e um conceito é amplo demais, a sua identidade acaba sendo prejudicada. 

Vide por exemplo o conceito de bissexual - que de tão amplo, certamente abarca a maioria da população, mas até hoje não conseguiu se solidificar, porque é tão amplo, tão amplo, tão vasto que no mundo real, torna-se demasiado fluido e diluído de tal forma, que fica sem força. Para completar dos anos 2000 pra cá, o movimento LGBT aproveitou essa "fraqueza" em amplitude, para incorporar o Bissexual na sua sigla de luta, mas ao mesmo tempo soa sem credibilidade, afinal ninguém nunca viu um bissexual militante LGBT, não se ouve a voz de um bissexual pegar o microfone falar que é casado e tem filhos e levantar a bandeira do arco-íris. 

Politicamente falando, o movimento LGBT é de fato focalmente G (gay) e L (lésbico) e com a participação de forma mais tímida de alguns Ts (transgêneros).

Sob esse ponto político, fica uma reflexão: Sites gays durante o processo de impeachment da Presidente da República e sua votação na Câmara/Senado, de forma maciça os LGBTs se posicionaram contra o impeachment. O site brasileiro Heterogoy (http://heterogoy.webnode.com/news/voce-e-a-favor-do-impeachment/), por sua vez, realizou também uma enquete, sobre o mesmo tema   e 70% dos usuários que participaram afirmaram ser favoráveis ao impedimento da presidente.

Isso seria uma surpresa? Para mim não. Apenas mostra que há diferenças entre gays e g0ys e essas diferenças vão muito além do que se faz ou não se faz na cama, são diferenças que ainda não se sabe por completo, mas que invadem outras áreas da vida, pois tem a ver com a atitude, tem a ver com a forma de encarar a vida e em especial com a perspectiva de  mudança da postura de vitimização para uma postura pró-ativa. A visão política que de um lado tende a ser mais de esquerda e do outro aparentemente tende a ser mais de centro ou ainda de centro-direita, é apenas mais uma das facetas a mostrar nuances e diferenças entre gays (homossexuais) e os g0ys (homo eróticos/afetivos).

Isso só mostra que essa história (na verdade estória) de que toda mulher deve ser feminista, todo homo masculino deve ser militante LGBT, não é bem assim... Há que se ponderar que a sexualidade e bandeiras políticas não possuem um casamento linear e obrigatório. As bandeiras de movimentos sociais, todos eles, inclusive o novo g-zero-y não podem se tornar uma prisão psíquica, devem ser apenas ser o que são: valores e ideais postos, que as pessoas aderem por se sentirem representadas pelos seus postulados.



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