sexta-feira, 13 de novembro de 2015

A heteroflexibilidade como é vista na ciência


Como prometido, volto a escrever sobre os conceitos g0ys na literatura científica.
   Hoje vou comentar sobre o artigo intitulado:

 Não Gay, mas não homofóbico ': Masculino e uma Sexualidade sem homofobia no` Estilo de vida'


Como se trata de uma tradução livre convém ilustrar também o título original: "Not gay, but not homophobic: Male sexuality and not homophobia in the lifestyle". O artigo é de autoria da PhD. Katherine Frank e está catalogado sob o doi: 10.1177/1363460708091743 .

O artigo não utiliza o rótulo g0y, no entanto como expresso em minha coluna na Revista Top Vitrine, o mais importante não é o rótulo, o importante é o conceito. É importante dizer isso, pois claramente ao longo do artigo de Frank, a autora descreve o comportamento "exótico" de homens heterossexuais que mantém algum tipo de vínculo com o homoerotismo, no entanto, sem serem ou se tornarem gays.

No artigo é da área da Sociologia e a autora não tem dúvidas. O estilo de vida desses homens, que ela chama de 'lifestyle sexuality' não seria um padrão de vida bissexual e nem gay, seria um comportamento heterossexual (Eu, nesse ponto particularmente discordo e defendo a ideia que não seria nenhum dos três, pois podemos sim, por que não? Abrir uma quarta vertente classificatória, para não criar conflitos de identidade com os héteros normativos, ou heterossexuais tradicionais, evitando assim usar um mesmo termo, para duas coisas diferentes).   

A autora não utiliza sequer o termo - já relativamente popular "hétero flexível"; prefere ver os heterogoys da sua pesquisa como "heteros" mesmo. Mas trata-se apenas de um posicionamento para não perder foco e não abrir já em um trabalho exploratório uma nova frente o que implicaria em confrontar academicamente pela visualização de uma nova e quarta identidade sexual, pois se anos depois em 2015, quando isso de fato aconteceu no Congresso de Masculinidade no Chile, tratando o gØy como uma nova identidade de gênero a temática vista sob esse ângulo, ainda causou polêmica; anos atrás essa visão ainda não estaria suficientemente madura.

De qualquer forma o conceito e/ou comportamento de uma sexualidade heterossexual flexível encontra-se catalogado e com certeza o artigo da PhD. Frank, escrito em 2008, na Revista Sexualidades, possui uma seriedade imensa, o conteúdo é preciso e descreve os hábitos típicos de héteros modernos, de uma heterossexualidade flexível e que aqui no Brasil, chamamos de heterogoy e a autora na época denominou de heteros possuidores de um new Lifestyle sexuality.

Vejamos o que diz o seu abstract:
"This article explores the relative lack of male same-sex activity in heterosexual `swinging', or `the lifestyle', especially compared to the ubiquity of female same-sex activity and eroticism. `Lifestyle sexuality' is conceptualized as a system of erotic relations and a cultural experience as a way of theorizing beyond identity and the binary oppositions of homo/hetero or straight/queer that often underlie discussions of sexual desire, practice, and homophobia. Desires, aesthetics, sexual styles, ethical premises, and beliefs about gender and sexuality are variously configured in different heterosexual communities. Exploring their specificities strengthens our ability to analyze distributions of power, privilege and stigma, and allows us to explore more precisely how changing meanings of love, sex, and commitment, along with developments in the organization and experience of late capitalism, are affecting sexual practices and identities. The analysis here thus examines how lifestyle sexuality is integrated into other political, economic, social, cultural, and erotic spheres and what this means for theorizations of homophobia and heteronormativity."
  
Em uma tradução livre:
Este artigo explora [a presença de um homoerotismo e o confronta com] a relativa falta dessas atividades homoeróticas no estilo de vida dos 'heterossexuais em atos swinging' [aqui a tradução melhor efetivamente é hetero g0y e/ou hetero flexível, para não confundir, pois não se trata necessariamente de frequentadores de clubs de swing, de ménage e/ou troca de casais], e especialmente em comparação com a  onipresença das atividades sexuais e eróticas com o sexo feminino. A `Lifestyle sexualidade" é aqui conceituada como um sistema de relações eróticas e uma experiência cultural enquanto uma maneira de teorizar além da identidade e as oposições binárias do homo / hetero ou correto/desviado, estranha-se que muitas vezes estão subjacentes discussões sobre o desejo sexual, prática e homofobia. Desejos, estética, estilos sexuais, premissas éticas e crenças sobre gênero e sexualidade são variantes configuradas em diferentes comunidades heterossexuais. Explorando as suas especificidades fortalece-se nossa capacidade de analisar as distribuições de poder, privilégios e estigma, e nos permite explorar mais precisamente como mudam os significados de amor, sexo e compromisso, juntamente com a evolução na organização e experiência do capitalismo tardio que estão afetando as práticas sexuais e identidades. A análise aqui, portanto, examina como essa "lifestyle sexualidade" está integrada a outras esferas políticas, econômicas, sociais, culturais e eróticas e o que isso significa para as teorizações de homofobia e heteronormatividade. 

Conclusões do trabalho: O g0y hétero, não é homofóbico - tal como alguns militantes políticos o tentam descrever, o que chama a atenção é que no Lifestyle sexuality há um estilo de vida que implica em um modelo de flexibilidade que quebra a ideia concreta do homo/hetero como instâncias separadas e binárias.
Se você gosta de aprofundar os temas, vale a pena a leitura do trabalho na íntegra.

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